Superior Tribunal de Justiça e Senado Federal já usam bituqueiras para descarte e coleta. Técnica transforma resíduos em celulose.
O único processo de reciclagem de bitucas de cigarro no país foi elaborado em 2003 pela Universidade de Brasília (UnB). A técnica transforma o restante do cigarro em celulose, e foi patenteada em 2014 pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
Após a concessão do registro da patente, a UnB fez o licenciamento para uma empresa de Votorantim, em São Paulo, que hoje é responsável pela coleta das bitucas e pela reciclagem. De acordo com os técnicos, com 25 bitucas de cigarro, é possível fazer uma folha que será utilizada em atividades pedagógicas.
Em entrevista ao G1, a doutora em Desenvolvimento Sustentável e coordenadora do Laboratório de Papel Artesanal da UnB, Thérèse Hofmann, contou que a ideia de reutilizar as guimbas partiu de um aluno de biologia. Marco Antônio Duarte e a professora Thérèse e o professor Paulo Suarez descobriram que não havia na literatura acadêmica e nem nas empresas do ramo do tabaco nenhuma pesquisa sobre o assunto.
Foi então, que começaram a trabalhar juntos. A tecnologia desenvolvida por eles permite o aproveitamento completo de todo o resíduo dos cigarros. Em linhas gerais, o material descartado (bituca, restos de fumo e o papel que envolve o filtro) é coletado e processado química e mecanicamente.
Bituqueira
Em Brasília, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Senado Federal entregam as bitucas recolhidas nos prédios na universidade. Mas como há uma limitação de espaço físico e de condição de processar tudo, a empresa paulista Poiato Recicla faz a coleta e encaminha o material para São Paulo.
Segundo a Assessoria de Gestão Socioambiental do STJ, o tribunal coleta 60 quilos de descartes de bitucas de cigarro por ano.
Na UnB, a professora Thérèse diz que as caixas coletoras espalhadas pelo campus ainda não conseguem resolver o problema cultural das pessoas, que insistem em jogar as bitucas no chão. "Há questões que não estão totalmente solucionadas, mas estamos trabalhando nisso junto com a área de gestão ambiental da UnB", explica.
Ao descartar o resto do cigarro nos locais apropriados, o fumante evita danos ao meio ambiente e ainda participa de uma iniciativa nobre, acrescenta a pesquisadora: ajuda a transformar os resíduos do cigarro em papel reciclado.
No processo de reciclagem, as bitucas passam por uma espécie de triagem onde são retirados outros dejetos, que possam ter sido trazidos na coleta, como material orgânico. Em seguida, as guimbas são fervidas em uma solução com água e produtos químicos para "anular" as substâncias tóxicas.
O material depois é filtrado. Amostras do líquido produzido são analisadas para controle ambiental do processo e o que sobra é prensado, vira a massa de celulose que se transforma em papel.
Por fim, o processo segue o processo já conhecido da reciclagem, com a hidratação da massa de celulose, formato e coloração.
Por meio do Laboratório de Papel Artesanal da UnB, são ministradas atividades como cursos, palestras e divulgação das pesquisas. "Não temos uma produção regular, pois nosso propósito não é a venda e sim a conscientização da possibilidade de reciclagem e da
de cultura", afirma Thérèse.
A professora alerta que o hábito de fumar causa prejuízos ambientais e pessoais, mas pior ainda é jogar a bituca de cigarro em qualquer lugar. “Ela não se dissolve rapidamente. Demora alguns anos para ser absorvida e durante esse tempo vai depositando na natureza todos os elementos que estão contidos nela”, ressalta.
Fonte: G1
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